Ao longe, ao luar…
Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela ?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça ?
Que amor não se explica ?
É a vela que passa
Na noite que fica.
Fernando Pessoa
Pintura: Mães e filhos–Galeria 7
EMILE MUNIER
GEORGE GOODWIN KILBURNE
DANIEL RIDGWAY KNIGHT
GUGLIELMO ZOCCHI
PIERRE EDOUARD FRERE THÉOPHILE EMMANUEL DUVERGER
ALEXANDRE LEGRAND LEON JEAN BAZILE PERRAULT
WILLIAM-ADOLPHE BOUGUEREAU
AUGUSTE TOULMOUCHE ARTHUR JOHN ELSLEY
A cavalgada
A CAVALGADA
A lua banha a solitária estrada…
Silêncio!… mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada…
E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha…
E o silêncio outra vez soturno desce,
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…
(Raimundo Correia – 1859 – 1911)
Temas da Pintura: Paisagens – 4
PLENITUDE
Vai alto o dia. O sol a pino ofusca e vibra.
O ar é como de forja. A força nova e pura
Da vida embriaga e exalta. E eu sinto. fibra a fibra,
Avassalar-me o ser a vontade da cura.
A energia vital que no ventre profundo
Da Terra estuante ofega e penetra as raízes,
Sobe no caule, faz todo galho fecundo
E estala na amplidão das ramadas felizes,
Entra-me como um vinho acre pelas narinas…
Arde-me na garganta… E nas artérias sinto
O bálsamo aromado e quente das resinas
Que vem na exalação de cada terebinto.
O furor de criação dionisíaco estua
No fundo das rechãs, no flanco das montanhas,
E eu absorvo-o nos sons, na glória da luz crua
E ouço-o ardente bater dentro em minhas entranhas
Tenho êxtase de santo… Ânsias para a virtude…
Canta em minh´alma absorta um mundo de harmonias.
Vêm-me audácias de heroi… Sonho o que jamais pude
– Belo como Davi, forte como Golias…
E neste curto instante em que todo me exalto
De tudo o que não sou, gozo tudo o que invejo,
E nunca o sonho humano assim subiu tão alto
Nem flamejou mais bela a chama do desejo.
E tudo isso me vem de vós, Mãe Natureza!
Vós que cicatrizais minha velha ferida…
Vós que me dais o grande exemplo de beleza
E me dais o divino apetite da vida!
(Manuel Bandeira)
FREDERICK JUDD WAUGH
LOUIS ASTON KNIGHT
PEDER MORK MONSTED
ALBERT BIERSTADT
BAREND CORNELIS KOEKKOEK
HENRY JOHN YEEND KING
HUGH BOLTON JONES
Pintura: Em algum lugar do passado… – Galeria 11
SIR LAWRENCE ALMA-TADEMA
JOHN WILLIAM GODWARD
WILLIAM HOLMES SULLIVAN
JUAN GIMÉNEZ MARTIN
ALBERT JOSEPH MOORE WILLIAM HARRIS WEATHERHEAD
STEPHAN BAKALOWICZ JOHN REINHARD WEGUELIN
HENRIK G. SEMIRADSKY
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
Pintura: Oswaldo Cantillo
Amar é uma arte !–Galeria 21
"Amar é mudar a alma de casa".
Mario Quintana
FEDERICO ANDREOTTI
HENRY GUILLAUME SCHLESINGER
HAROLD COPPING ADOLFO BELIMBAU
ANTONIO LONZA
JOHN FAED
FRITZ ZUBER-BUHLER
STEFAN BAKALOWICZ EVA HOLLYER
GEORGE WILLIAM JOY HERBERT P. DOLLMAN
Hora…
HORA
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta — por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim ouço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
Sophia de Mello Breyner
Aquarela: Steve Hanks