Do vento…
DO VENTO
Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
– haverá quem o colha? –
um resíduo…
Memória.
Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.
Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas…
Menotti del Picchia
O Voo…
O VOO
Goza a euforia do voo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o
de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu voo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens
na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e
de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.
Menotti del Picchia (Poeta brasileiro, 1892-1988)
Pintura: O anjo (1918) de Abbott Handerson Thayer (Pintor americano, 1849-1921)
Do vento…
Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
– haverá quem o colha? –
um resíduo…
Memória.
Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.
Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas…
Menotti del Picchia