Um autor, duas obras: William Henry Margetson (Inglaterra)
WILLIAM HENRY MARGETSON
(Inglaterra, dezembro de 1861 – 02 de janeiro de 1940)
Três momentos: Cecília Meireles
CANÇÃO EXCÊNTRICA
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
– saudosa do que não faço,
– do que faço, arrependida.
Pintura: Charles Courtney Curran (EUA, 1861-1942)
APRESENTAÇÃO
Aqui está minha vida – esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz – esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
Aqui está minha dor – este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança – este mar solitário,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.
Pintura: William Henry Margetson (Inglaterra, 1861-1940)
A vida só é possível reinventada.
Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas. . .
Ah! Tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo… – mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcança…
Só – no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só – na trevas fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.
Ilustração: Maxfield Parrish (EUA, 1870 – 1966)
Cecília Benevides de Carvalho Meireles
(Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964)
Poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira.
Espiritualismo
Espiritualismo
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas vagamente…
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?
Mas na imensa extensão onde se esconde
O inconsciente imortal só me responde
Um bramido, um queixume e nada mais.
Antero de Quental (Portugal, 1842-1891)
Pintura: William Henry Margetson (Inglaterra, 1861-1940)
Um autor, duas obras: William Henry Margetson
WILLIAM HENRY MARGETSON
(Londres, Inglaterra, dezembro de 1861 – Wallingford, Inglaterra, 02 de janeiro de 1940)
Um autor, duas obras: William Henry Margetson
WILLIAM HENRY MARGETSON
(Inglaterra, dezembro de 1861 – 02 de janeiro de 1940)