Tristeza, alegria…
Se sou alegre ou sou triste?…
Francamente, não o sei.
A tristeza em que consiste?
Da alegria o que farei?
Não sou alegre nem triste.
Verdade, não sou o que sou.
Sou qualquer alma que existe
E sente o que Deus fadou.
Afinal, alegre ou triste?
Pensar nunca tem bom fim…
Minha tristeza consiste
Em não saber bem de mim…
Mas a alegria é assim…
Fernando Pessoa
FRANÇOIS MARTIN-KAVEL EMILE VERNON
CONSTANCE MARIE CHARPENTIER
TITO CONTI
EDWARD ROBERT HUGHES ABBEY ALTSON
THOMAS FRANCIS DICKSEE MADELEINE LEMAIRE
FRANCESCO HAYEZ ALFRED STEVENS
EMILE EISMAN SEMENOWSKY GUSTAVE JEAN JACQUET
FRIEDRICH VON AMERLING JOHN WILLIAM GODWARD
A alma…
A alma é um cenário.
Por vezes, ela é como uma manhã
brilhante e fresca, inundada de alegria.
Por vezes ela é como um pôr do sol…
triste e nostálgico.
Rubem Alves
Pintura: Robert Zund
Amar é uma arte !–Galeria 22
DOSIMETRIA DO AMOR:
…”Que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.”
Vinícius de Morais
MARCUS STONE
ARCANGELO SALVARANI
FREDERICK ARTHUR BRIDGMAN
DANIEL HERNANDEZ FEDERICO ANDREOTTI
JULES SALLES-WAGNER
LUDWIG KNAUS
EDMUND BLAIR-LEIGHTON
SONETO DA FIDELIDADE
Vinícius de Morais
De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vesti azul–Galeria 6
Soneto do desmantelo azul
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Carlos Pena Filho (1929-1960)
PIERRE AUGUSTE RENOIR FREDERICK GOODALL
WILLIAM MCGREGOR PAXTON GAETANO BELLEI
PIMEN N. ORLOV PAOLO GHIGLIA
FERNAND TOUSSAINT ALEXANDRE CABANEL
GUSTAVE JEAN JACQUET EDWARD SAMUEL HARPER
WILLIAM CKARKE WONTNER RAIMUNDO DE MADRAZO Y GARRETA
Então serás eterno…
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Cecília Meireles
Foto: Alexander Matev
Poesia: Carlos Drummond de Andrade
ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
Além da terra, além do céu
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastros dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fudamental essencial
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar
o verbo pluriamar,
razão de ser e viver.
SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.
Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa
com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.
POEMA
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
ROSA ROSAE
Rosa
e todas as rimas
Rosa
e os perfumes todos
Rosa
no florindo espelho
Rosa
na brancura branca
Rosa
no carmim da hora
Rosa
no brinco e pulseira
Rosa
no deslumbramento
Rosa
no distanciamento
Rosa
no que não foi escrito
Rosa
no que deixou de ser dito
Rosa
pétala a pétala
despetalirosada
MEMÓRIA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poeta, contista e cronista brasileiro
(Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987)
Eu sou um (a) pintor (a) !–Galeria 14
E à Arte o Mundo Cria
Seguro Assento na coluna firme
Dos versos em que fico,
Nem temo o influxo inúmero futuro
Dos tempos e do olvido;
Que a mente, quando, fixa, em si contempla
Os reflexos do mundo,
Deles se plasma torna, e à arte o mundo
Cria, que não a mente.
Assim na placa o externo instante grava
Seu ser, durando nela.
Ricardo Reis
Heterônimo de Fernando Pessoa
AUGUSTE RAYNAUD
ETIENNE FRANÇOIS EUGENE LECOINNDRE ARTEMISIA GENTILESCHI
MARIE VICTOIRE LEMOINE J. C. WAITE
HENRI FANTIN-LATOUR
KARL JOSEPH LITSCHAUER
ANTONIO PAOLETTI
HENDRIK JACOBUS SCHOLTEN
Retratos de Mulher–24: Gravuras, litografias, pintura em porcelana (KPM)
"Quem você pensa que é?"
perguntou pra mim de queixo em pé…
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.
Martha Medeiros
MARCUS STONE M. MARCO
NATHANIEL SICHEL
CONRAD KIESEL EMILE VERNON
ALFRED SCHWARZ FAUSTIN BESSON
FRANZ ROBERT RICHARD BRENDAMOUR JOHN PHILLIP
Placas de porcelana pintada (KPM – Berlim)