Nossas marcas no tempo…
NOSSAS MARCAS NO TEMPO…
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(Passagem das Horas – Poema de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)
Pintura: Albert Anker (Suiça, 1831-1910)
Trio: Fritz Zuber-Buhler (Suiça)
FRITZ ZUBER-BUHLER
(Le Locle, Suiça, 6 de novembro de 1822 – Paris, França, 23 de novembro de 1896)
MAIS: BIOGRAFIA
Trio: Albert Anker (Suiça)
ALBERT ANKER
(Ins, Suiça, 1 de abril de 1831- Ins, Suiça, 16 de julho de 1910)
Um autor, duas obras: Fritz Zuber-Buhler
FRITZ ZUBER-BUHLER
(Le Locle, Suiça, 1822 – Paris, França, 23 de novembro de 1896)
Um autor, duas obras: Fritz Zuber-Buhler (Suiça)
FRITZ ZUBER-BUHLER
(Le Locle, Suíça, 1822 – Paris, França, 23 de novembro de 1896)
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
Pintura: Albert Anker (Suiça, 1831-1910)
Um autor, duas obras: Fritz Zuber-Buhler
FRITZ ZUBER-BUHLER
(Le Locle, Suíça, 1822 – Paris, França, 23 de novembro de 1896)