
O Natal, as cenas de presépio, inspiraram muitos poetas. Recordo-me de poetas brasileiros que cantaram o Natal com ternura, imensa nostalgia, infinita melancolia e alegria simples. Alguns, de modo genuinamanete brasileiro.
Quem não se emociona, mesmo em tempo tão materialista como o de hoje, ao ouvir um coral cantando a brasileiríssima canção de Assis Valente ?
"Anoiteceu
O sino gemeu
A gente se pôs
feliz a cantar.
Papai Noel vê se você tem
a felicidade pra você me dar.
Já faz tempo que pedi
mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já esqueceu
ou então felicidade
é brinquedo que não tem".
Vinícius de Morais, com sua sensiblidade, em seu "Poema de Natal", nota:
Não há muito que dizer;
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os vossos corações
Se deixem, graves e simples."
E Manuel Bandeira, o maior poeta de sua geração, cuja poesia dá felicidade à gente, faz a gente gostar de viver, soube cantar, como nenhum outro, o Natal, com ternura e inocência. Leiam:
Penso no Natal. No seu Natal. Para a Bondade
A minhalma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Ó minha amiga, aceita a carícia filial
Da minhalma a teus pés humilhada de rastos,
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos…
Ampara minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais que humana – pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus…"
Se a cena do nascimento de Jesus comove e nos diz que a alegria se faz com pouca coisa, o Natal desses brasileiros também nos emociona e mostra nosso destino, paz e simplicidade.
(Plinio Mendonça)
Pintura: Bartolomé Esteban Murillo (Espanha, 1617-1682)
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12/12/2014 | Categorias: ARTES, ESCRITORES | Tags: Bartolomé Esteban Murillo, Natal, natividade, pintores espanhois, Poetas brasileiros | Deixe um comentário

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia ?
David Mourão-Ferreira
(Lisboa, 1927 – 1996)
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15/12/2011 | Categorias: ARTES, POESIAS | Tags: artes, David Mourão-Ferreira, Natal, poesias | Deixe um comentário