Revista Virtual de Artes, com ênfase na pintura do século XIX

Posts com tag “Natal

Natal dos poetas brasileiros

698px-Bartolomé_Esteban_Murillo_-_The_Nativity_-_Google_Art_Project

O Natal, as cenas de presépio, inspiraram muitos poetas. Recordo-me de poetas brasileiros que cantaram o Natal com ternura, imensa nostalgia, infinita melancolia e alegria simples. Alguns, de modo genuinamanete brasileiro.
Quem não se emociona, mesmo em tempo tão materialista como o de hoje, ao ouvir um coral cantando a brasileiríssima canção de Assis Valente ?

"Anoiteceu
O sino gemeu
A gente se pôs
feliz a cantar.
Papai Noel vê se você tem
a felicidade pra você me dar.
Já faz tempo que pedi
mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já esqueceu
ou então felicidade
é brinquedo que não tem".

Vinícius de Morais, com sua sensiblidade, em seu "Poema de Natal", nota:

Não há muito que dizer;
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os vossos corações
Se deixem, graves e simples."

E Manuel Bandeira, o maior poeta de sua geração, cuja poesia dá felicidade à gente, faz a gente gostar de viver, soube cantar, como nenhum outro, o Natal, com ternura e inocência. Leiam:

Penso no Natal. No seu Natal. Para a Bondade
A minhalma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.

Ó minha amiga, aceita a carícia filial
Da minhalma a teus pés humilhada de rastos,
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos…
Ampara minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais que humana – pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus…"

Se a cena do nascimento de Jesus comove e nos diz que a alegria se faz com pouca coisa, o Natal desses brasileiros também nos emociona e mostra nosso destino, paz e simplicidade.

(Plinio Mendonça)

Pintura: Bartolomé Esteban Murillo (Espanha, 1617-1682)


Feliz e abençoado Natal, amigos!

I_franz_ittenbach_001_the_holy_family_1868

FRANZ ITTENBACH


_angel3aOnde há o amor, existe o Natal !_angel3


Natal à beira rio…

paysage-

É o braço do abeto a bater na vidraça?

E o ponteiro pequeno a caminho da meta!

Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,

A trazer-me da água a infância ressurrecta.

Da casa onde nasci via-se perto o rio.

Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!

E o Menino nascia a bordo de um navio

Que ficava, no cais, à noite iluminado…

Ó noite de Natal, que travo a maresia!

Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.

E quanto mais na terra a terra me envolvia

E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.

Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me

À beira desse cais onde Jesus nascia…

Serei dos que afinal, errando em terra firme,

Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia ?

David Mourão-Ferreira

(Lisboa, 1927 – 1996)