“O tempo passou na janela”… Galeria 8
MARIE SPARTALI STILLMAN
EDWARD JOHN POYNTER GEORG PAPPERITZ
LADY LAURA ALMA-TADEMA ROBERT WALKER MACBETH
ANDREW WYETH RICHARD EDWARD MILLER
"Quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim”.
Cecília Meireles
Canção excêntrica
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
-saudosa do que não faço
-do que faço, arrependida.
Cecilia Meirelles
Pintura: Richard Edward Miller
Música na Pintura – Galeria 20: “Um piano ao cair da tarde…”
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles
Pintura: Charles Gogin – “The reverie” – 1900
WILLIAM WORCESTER CHURCHILL IRVING RAMSAY WILES
NIKOLAI PETROVICH BOGDANOV-BELSKY
GIOVANNI BOLDINI FRANCIS DAY
FRANCIS SIDNEY MUSCHAMP
GABRIEL DELUC
De que são feitos os dias ?
De que são feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…
Cecília Meireles
Foto: Pedro Mendonça
Canção
CANÇÃO
Fui fechar a janela ao vento.
_ Vento, por que vens aqui?
Eu amo os papéis que leio!
Fui fechar a janela ao vento
e me arrependi.
O vento dançava nos ares,
nem no céu nem no jardim,
só na sua liberdade,
o vento dançava nos ares,
isento e sem fim.
_ Vento, quero ir também contigo,
em meu coração falei.
E meu coração levou-me!
_ Mais longe do que contigo,
vento, voarei.
Cecília Meireles, 1955
Fotografia: Willyam Bladberry
Um pouco de poesia…
Poema
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade
Pintura: Puvis de Chavannes
Canção do Sonho Acabado
Já tive a rosa do amor
– rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia…
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
– utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz…
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis… mas não quero mais…
Helenita Scherma
Pintura: Ivan Kramskoi
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade
Pintura: Alfonso Simonetti
Espelho, espelho meu… Galeria 17
JULES JAMES ROUGERON
ARVID LILJELUND FREDERICK SANDYS
FRANK W. BENSON CHARLES MARTIN HARDIE
JULES EMILE SAINTIN FRANÇOIS JOSEPH CORNEILLE HASELEER
ROBERT HOPE
ANTON THIELE
CHARLES EDOUARD BOUTIBONNE
FREDERICK MORGAN DELAPOER DOWNING
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face ?
Pintura: Por isso é que eu canto…–Galeria 7
“Quem ouve música, sente sua solidão povoada de repente.”
Robert Browning (1812-1889)
JUAN GIMENEZ MARTIN
JACOB SCHIKANEDER
EUGENIO ZAMPIGHI
ANTONIO PAOLETTI
FEDERICO ANDREOTTI
ANSELM FEUERBACH
CESARE AUGUSTE DETTI JOHN SINGER SARGENT
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles