Revista Virtual de Artes, com ênfase na pintura do século XIX

POESIAS

Galeria: Além-mar…

Johann Victor Krämer (1861-1949) Moonrise in Taormina

JOHANN VICTOR KRAMER


Lawrence Alma-Tadema - 'Her eyes are with her thoughts and they are far away'

SIR LAWRENCE ALMA-TADEMA


Miranda-1875-John-William-Waterhouse-1849-1917

JOHN WILLIAM WATERHOUSE


midsummer´s Eve by Harald Slott-Møller - 1904Harald Slott-Moller (Danish, 1864-1937)

HARALD SLOTT-MOLLER


August Hagborg-

AUGUST HAGBORG


EDWARD CUCUEL (german-american 1879-1954) - EAST WINDGarrido, Eduardo Leon-ELÉGANTE AU BORD DE LA MER

EDWARD CUCUEL                                                             EDUARDO LEON GARRIDO


pensive-alfred stevensLooking at the Sea - Alfred Stevens (belgian painter)

ALFRED STEVENS


the sea breeze by george henry boughtonEugen von Blaas (Austrian, 1843-1931) Anticipation. 1911

GEORGE HENRY BOUGHTON                                                               EUGEN VON BLAAS


Girl Looking Out to Sea - Albert Chevallier Tayler-1918hermann seeger

ALBERT CHEVALLLIER TAYLER                                                                           HERMANN SEEGER


Canção do mar aberto

Onde puseram teus olhos
A mágoa do teu olhar?
Na curva larga dos montes
Ou na planura do mar?
De dia vivi este anseio;
De noite vem o luar,
Deixa uma estrada de prata
Aberta para eu passar.
Caminho por sobre as ondas
Não paro de caminhar.
O longe é sempre mais longe…
Ai de mim se me cansar!…
Morre o meu sonho comigo,
Sem te poder encontrar
Armando Côrtes-Rodrigues, in ‘Planície Inquieta’



Felicidade

william menzler

“Felicidade se acha em horinhas de descuido”.

Guimarães Rosa

Pintura: Wilhelm Menzler (Alemanha, 1846-1926)


Nossas marcas no tempo

the old tea-caddy_Charles Spencelayh

NOSSAS MARCAS NO TEMPO…

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

(Passagem das Horas – Poema de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)

Pintura: Charles Spencelayh (Inglaterra, 1865-1958)


Melancolia

La pensée qu'on arrête, by Hermann Jean Joseph Richir

"No mesmo templo do deleite

A velada Melancolia tem o seu santuário".

(Keats)

Pintura: Herman Jean Joseph Richir (Bélgica, 1866-1942)


Soneto

card 1911
Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.

Bendito o riso assim que se desata
– Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!

Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos…

Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh’alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!

Augusto dos Anjos


Chove…

piove_thumb

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme.
Quando a alma é viúva

Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece

Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…
Não paira vento, não há céu que eu sinta.

Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa


card-antiq (2)

Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um voo de ave
E me entristeço!

Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem um desvio?

Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade

Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minh’alma alheia

Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do voo suave
Dentro em meu ser.

Fernando Pessoa


helene beland

Aqui nessa pedra, alguém sentou para olhar o mar

O mar não parou para ser olhado

Foi mar pra tudo que é lado.

Paulo Leminski

Pintura: Hélène Béland (artista canadense, nascida em 1949)