Galeria: Além-mar…
JOHANN VICTOR KRAMER
SIR LAWRENCE ALMA-TADEMA
JOHN WILLIAM WATERHOUSE
HARALD SLOTT-MOLLER
AUGUST HAGBORG
EDWARD CUCUEL EDUARDO LEON GARRIDO
ALFRED STEVENS
GEORGE HENRY BOUGHTON EUGEN VON BLAAS
ALBERT CHEVALLLIER TAYLER HERMANN SEEGER
Canção do mar aberto
Onde puseram teus olhos
A mágoa do teu olhar?
Na curva larga dos montes
Ou na planura do mar?
De dia vivi este anseio;
De noite vem o luar,
Deixa uma estrada de prata
Aberta para eu passar.
Caminho por sobre as ondas
Não paro de caminhar.
O longe é sempre mais longe…
Ai de mim se me cansar!…
Morre o meu sonho comigo,
Sem te poder encontrar
Armando Côrtes-Rodrigues, in ‘Planície Inquieta’
Felicidade
“Felicidade se acha em horinhas de descuido”.
Guimarães Rosa
Pintura: Wilhelm Menzler (Alemanha, 1846-1926)
Nossas marcas no tempo
NOSSAS MARCAS NO TEMPO…
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(Passagem das Horas – Poema de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)
Pintura: Charles Spencelayh (Inglaterra, 1865-1958)
Melancolia
"No mesmo templo do deleite
A velada Melancolia tem o seu santuário".
(Keats)
Pintura: Herman Jean Joseph Richir (Bélgica, 1866-1942)
Soneto
Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.
Bendito o riso assim que se desata
– Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!
Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos…
Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh’alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!
Augusto dos Anjos
Chove…
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme.
Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…
Fernando Pessoa
Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um voo de ave
E me entristeço!
Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem um desvio?
Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade
Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minh’alma alheia
Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do voo suave
Dentro em meu ser.
Fernando Pessoa
…
Aqui nessa pedra, alguém sentou para olhar o mar
O mar não parou para ser olhado
Foi mar pra tudo que é lado.
Paulo Leminski
Pintura: Hélène Béland (artista canadense, nascida em 1949)